"Quero me encontrar, mas não sei onde estou
Vem comigo procurar algum lugar mais calmo
Longe dessa confusão e dessa gente que não se respeita
Tenho quase certeza que eu não sou daqui!"
(Meninos e meninas, Dado Villa-Lobos / Marcelo Bonfá / Renato Russo)
Há muito tempo não escrevo aqui no blog. O foco nas externas e a minha falta de tempo fizeram com que a atividade por aqui ficasse parada por longo tempo, embora a página no Facebook e, mais recentemente, o perfil no Instagram tenham bastante movimento.
Vem comigo procurar algum lugar mais calmo
Longe dessa confusão e dessa gente que não se respeita
Tenho quase certeza que eu não sou daqui!"
(Meninos e meninas, Dado Villa-Lobos / Marcelo Bonfá / Renato Russo)
Há muito tempo não escrevo aqui no blog. O foco nas externas e a minha falta de tempo fizeram com que a atividade por aqui ficasse parada por longo tempo, embora a página no Facebook e, mais recentemente, o perfil no Instagram tenham bastante movimento.
Devo confessar que me
encontro, já há algum tempo, numa desilusão profunda em relação à vida no Rio
de Janeiro. Viver aqui não tem feito bem à saúde física, mental e emocional de
ninguém, e eu não fui excluída dessa conta. Mas, como ainda não consegui nenhum
meio de me sustentar fora daqui para ir embora, por enquanto, é aqui que eu
preciso estar e tentar, dentro das minhas possibilidades, viver melhor.
Há poucos dias, li uma
entrevista brilhante da arquiteta Tainá de Paula falando sobre o direito à
cidade pela população periférica (link abaixo) e refleti bastante sobre suas
falas. Apesar de concordar com tudo o que ela disse, não pude deixar de
observar que nunca me deixei afetar pelas restrições que a cidade impõe a seus
habitantes, e tudo isso por uma razão: não sou daqui.
Para quem não me conhece,
me apresento: eu, Emília Nazaré, nasci, sim, na cidade do Rio de Janeiro, em
agosto de 1987, no hospital Fabiano de Cristo (atual Vital), no Engenho Novo. Em outubro do mesmo ano, aos meus 2 meses de
vida, meus pais se mudaram para o Espírito Santo. Na cidade de Marataízes, morei
até o início de 1991. Foi lá que eu aprendi a andar, falar, tive minha primeira
escola, primeiros coleguinhas, primeiro contato com o mar (a cidade é litorânea),
primeiras situações constrangedoras para minha mãe... enfim, as minhas mais
distantes memórias são dessa cidade, que à época era apenas um distrito do
município do Itapemirim, tendo conquistado sua emancipação política em 1994 e
feito suas primeiras eleições para a prefeitura em 1996.
Em 1991, após a separação
dos meus pais, minha mãe se mudou comigo para Cachoeiro de Itapemirim, também
no Espírito Santo. Essa é a cidade que eu considero como meu local de origem.
Em Cachoeiro eu aprendi a ler, foi lá que descobri meus talentos e também minhas
limitações, encontrei pessoas que marcaram minha vida para sempre, muitas das
quais ainda estão presentes nela.
Em 1999, depois que minha
mãe se mudou para a zona rural de Atílio Vivácqua, município vizinho a Cachoeiro,
eu saí de casa e vim morar com familiares paternos no Rio, onde tive mais
recursos para estudar. Aqui, morando na Zona Oeste, concluí o ensino
fundamental e médio, fiz faculdade no Centro e na Urca, comecei a trabalhar, fiz
pós-graduações, estudei línguas, fiz muitas amizades, vivi grandes
relacionamentos, mas meu coração sempre esteve ligado à minha terra, para onde
sempre fui em todas férias e, eventualmente, feriados longos.
Na minha terra, as
pessoas não se preocupam com distâncias quando têm propósitos a realizar.
Atravessam cidades e até divisas entre estados, quando necessário, para cumprir
aquilo a que se propuseram. Tratam como objetivo, não como sacrifício. E foi
com essa mentalidade que eu cresci no Rio. Desde a faculdade, sempre estudei e
trabalhei longe de casa, e nunca interpretei essa ação como sacrifício, mas sim
como o que eu precisava e ainda preciso fazer.
Hoje, pelas minhas atuais
atividades e arranjos de vida, me divido entre as zonas Norte, Sul e Oeste da
cidade. Em todas elas, o tratamento é o mesmo. A cidade segrega? Ao extremo! Eu
me importo? Nem um pouco! Coloco minha mochila nas costas e vou! Uso mais de um
transporte, faço baldeação, caminho trechos a pé, mas vou! E vou para as
cidades vizinhas também, visito amigos, faço compras, faço pesquisas, só não
fico sentada na calçada chorando porque a cidade me exclui (e sim, ela exclui!).
Foi nesse espírito que eu
aprendi a explorar a região sem preconceitos. Todos os bairros, sejam ricos ou
pobres, têm atrativos, e é em busca deles que eu ando. Não precisa ser ponto
turístico, não! Se o atrativo for uma iguaria da baixa gastronomia local, já
vale a visita! As cidades da região metropolitana são interessantes, sim! Já
ouvi cada comentário absurdo, carregado de preconceito, a respeito de locais
que as pessoas nem conhecem, que se eu fosse escrever sobre cada um deles
renderia um novo post!
Por isso, digo a quem é
dessa cidade, quem tem raízes aqui, quem se identifica como carioca, de
qualquer região: deixe os preconceitos de lado e se aproprie da sua cidade! Eu
fiz isso, mas eu não sou daqui. Meu olhar é diferente porque foi formado em
outro estado, com outra dinâmica, e essa é uma coisa que eu posso agregar às
visões de vocês.
Compartilhem suas dúvidas
e até suas ideias pré-fabricadas. Quem sabe sai uma nova construção?
Gostei do termo ideias pre-fabricadas, quase um eufemismo para preconceito. Eu nao teria grandes problemas em ir se eu pudesse ler livros no trajeto, mas eu tenho grandes dificuldades de me concentrar em leitura se nao estou num local isolado. Tenho um grande problema tb quando estah aquele calor no RJ e estamos numa lotacao nao climatizada. Daquela vez em que fomos realizar a materia para RnR na Ilha do Governador, no percurso, dentro do 397, estava tao quente, mas tao quente, q lembro ateh hj, rs.
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