“O
rei mandou cair dentro da folia
E
lá vou eu, e lá vou eu!
O
som que brilha nessa noite vem da Ilha,
Lindo
sonho que é só meu (...)” (Festa Profana, J. Brito e Bujão –
Samba-enredo da União da Ilha do Governador – 1989)
Ir à Ilha do
Governador é sempre uma grande experiência. Fora do continente, mas plenamente
integrada à cidade, é uma região que tem características e contrastes bem
particulares, que sempre se revelam dignos de registro.
No blog História da
Ilha do Governador, conhecemos um pouco mais sobre a região:
“Descoberta em 1502 por navegadores portugueses, os
Temiminós foram os seus primeiros habitantes. Chamavam-na de Ilha de Paranapuã,
sendo também chamada de Ilha dos Maracajás (espécie de grandes felinos, então
abundantes na região), pelos Tamoios, inimigos dos Temiminó.
Terra natal de Araribóia, foi abandonada pelos Temiminós
em conseqüência dos ataques de inimigos Tamoios e traficantes franceses de
pau-brasil, os quais foram definitivamente expulsos em 1567, pelos portugueses.
O nome Ilha do Governador surgiu somente a partir de 5 de
setembro de 1567, quando o Governador Geral do então Estado do Brasil (e
interino da Capitania do Rio de Janeiro) Mem de Sá doou ao seu sobrinho,
Salvador Correia de Sá (o Velho), Governador e Capitão-general da Capitania
Real do Rio de Janeiro de 1568 a 1572), mais da metade do seu território.
Correia de Sá, futuro governador da capitania, transformou-a em uma fazenda
onde se plantava cana-de-açúcar, com um engenho para produção de açúcar,
exportado para a Europa nos séculos XVI, XVII e XVIII.
No século XIX, o Príncipe-Regente D. João utilizou o seu
espaço como coutada para a caça. Segundo a tradição, conta-se que a Praia da
Bica recebeu este nome por causa de uma fonte que costumava servir de banho ao
jovem príncipe D. Pedro, mais tarde D. Pedro I (1822-1831). O desenvolvimento
da Ilha do Governador, entretanto, só ocorreu a partir da ligação regular da
ilha com o continente, efetuada por barcas a vapor com atracadouro na Freguesia
desde 1838. Mais tarde, outros atracadouros foram construídos no Galeão e na
Ribeira, integrando a área à economia do café e à atividade industrial
(produção de cerâmica).
No início do século XX, os bondes chegaram à Ilha,
efetuando a ligação interna de Cocotá à Ribeira (1922), percurso estendido
posteriormente até ao Bananal e a outros pontos. Também é neste século que se
instalam as unidades militares: a Base Aérea do Galeão, os quartéis dos
Fuzileiros Navais e a Estação de Rádio da Marinha, época em que o bairro se
constituía num balneário para a classe média da cidade do Rio de Janeiro.
Em 23 de julho de 1981, através do Decreto nº 3.157, do
então prefeito Júlio Coutinho, ao tempo do Governador Chagas Freitas, o bairro
da Ilha do Governador foi oficialmente extinto e transformado nos seus atuais
dezessete bairros oficiais.”
Os 17 bairros que
compõem oficialmente a Ilha do Governador são: Bancários, Cacuia, Cocotá,
Dendê, Freguesia, Galeão, Guarabu, Jardim Carioca, Jardim Guanabara, Moneró,
Pitangueiras, Portuguesa, Praia da Bandeira, Ribeira, Tauá, Tubiacanga e Zumbi.
É no Jardim Guanabara que se localiza a Praia da Bica, local escolhido para a
nossa matéria.
Terceira maior praia
da Ilha do Governador, a Praia da Bica tem 2 km de extensão. Seu nome vem do chafariz colonial localizado
mais ou menos no centro da praia, cujas águas vêm da nascente localizada em uma
pequena elevação do outro lado da rua.
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Bica recém-reformada. Água não-potável. |
No início da praia
existe o Parque Ecológico Marcello de Ipanema. O Parque tem 13 hectares de vegetação
e pequenas intervenções urbanísticas. Verificamos, durante nossa pesquisa, que
durante muito tempo ele esteve abandonado, mas, aparentemente, aconteceram
intervenções recentes, pois os equipamentos de recreação infantil, os bancos e
mesas, as escadas, as rampas e a vegetação estão bem cuidados.
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Parquinho na entrada do Parque Marcello de Ipanema. |
O nome do parque
homenageia um historiador local, que escreveu diversos livros sobre a Ilha.
Para quem quiser conhecer, recomendamos muita disposição, pois ele é todo em
subida, e repelente, muito repelente! Resolvidos esses pontos, é subir e
apreciar! As árvores, cactos, flores e, acima (literalmente) de tudo, a vista!
Para quem for até lá no fim da tarde, como nós fomos, indicamos: o pôr do sol é
um dos mais belos do Rio!
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Pôr do sol visto do alto do Parque Marcello de Ipanema. Vale a subida! |
Apesar de ter sido
incluída no Programa Sena Limpa, lançado pelo Governo do Estado em 2012 com o
objetivo de despoluir seis das principais praias do Rio (Bica, Ipanema, Leme,
Leblon, São Conrado e Urca) até o final de 2014, a praia da Bica, devido ao
alto grau de poluição da Baía de Guanabara, não é própria para o banho. Há quem
se arrisque, mas a água ainda é muito suja e, no início da praia, ainda há a
poluição por lixo. Garrafas e sacos plásticos, latas, vidros... vimos tudo isso
na areia e na água no trecho próximo ao Esporte Clube Jardim Guanabara.
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Trecho da praia próximo ao Parque Marcello de Ipanema, antes do Jardim Guanabara Esporte Clube. |
Na Praça Jerusalém, que
também se localiza nesse trecho, existe a Capela Imperial Nossa Senhora da
Conceição, que está completando 350 anos em 2016. A edificação principal data
de 1816. Infelizmente, a “igrejinha”, como é conhecida pelos moradores, estava
fechada e não conseguimos imagens internas, mas prometemos para outra
oportunidade.
Capela Imperial Nossa Senhora da Conceição. |
Em frente à igreja,
um grande atrativo é o chafariz da Mãe D’Água Amazônica, obra em bronze que
representa um ser meio-mulher/meio-peixe, sentado sobre a enorme folha de uma
vitória-régia. A obra é réplica de original de Newton Sá localizado em frente à
Arquidiocese de São Luís, no Maranhão.
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Chafariz da Mãe D´Água Amazônica |
Ao longo da orla,
vários quiosques atraem o público local e visitante. Às sextas-feiras, também é
grande o movimento de jovens que se reúnem na Praça Jerusalém, numa
interessante mistura de tribos, cada grupo levando seu “isoporzinho”, alguns
carregando instrumentos musicais e fazendo o próprio som, outros trazendo a
música em equipamentos, outros alheios à música e concentrados nas conversas.
Nos quiosques, há
opções para todos os gostos. Os que mais lotam são a Kabana do Alemão e o
Doctor Sax. Esse último, mais famoso pelas cervejas artesanais e pelas filas
gigantescas nas noites de sexta (que valem a pena, pois o local é ótimo!), tem
uma sorveteria especialíssima, com uns sabores exclusivos e receitas bem
interessantes para as taças. Nos outros, pode-se encontrar culinária regional e
internacional, fast food e o que mais
interessar ao público.
O quiosque escolhido
para nossa parada nessa matéria foi o Mormaço Lanches. A casa, que funciona há
29 anos ao lado da bica que dá nome à praia, já funcionou como trailer, com os
frequentadores sentados na mureta. Hoje, divide a edificação com outro
estabelecimento e, no lado que ocupa, oferece uma varanda agradável, com vista
para a praia e mesinhas de madeira. Destaque também para a otimização do espaço
nos banheiros, dica para quem tem banheiros pequenos em casa.
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Placa do Mormaço Lanches. |
Sanduíches, sopas,
porções e pequenas refeições são servidos no local. De acordo com os
funcionários Antônio (o mais antigo da casa, trabalhando lá há 25 anos) e Luiz
Fernando, os sanduíches mais pedidos são o Super Big, feito com filé bovino ou
de frango, e o Big Dog, cachorro-quente de 30 cm.
O cachorro-quente do
Mormaço Lanches foi a motivação inicial dessa matéria. Conhecido pela Emília há
mais de uma década, nos últimos anos atraiu também amigos da editora deste
blog, levados por ela, que saíram de lá convictos de terem provado o melhor
cachorro-quente da face da Terra!
Sem precisar se
arriscar na versão Big, a versão comum vem com milho, ervilha, molho cozido de
tomate e cebola, passas, queijo ralado, azeitona, ovo de codorna, catchup,
mostarda, maionese, molho tártaro, batata palha e alface. Sim, o
cachorro-quente tem ALFACE!
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O melhor cachorro-quente da face da Terra! |
O diferencial que
assusta clientes que chegam pela primeira vez é explicado pelos funcionários da
casa: a vitrine com os “recheios” para os sanduíches atendia tanto a quem pedia
hambúrgueres como a quem pedia cachorro-quente; um dia, um cliente quis alface
no cachorro-quente (originalmente, era só para hambúrguer), outro viu e também
quis, outro soube e também quis, e assim a ideia caiu no gosto do público e,
hoje, o cachorro-quente só vem sem alface a pedido do cliente.
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Vitrine dos "recheios". Vejam o alface lá! |
Lanchar contemplando
a vista da praia, da Baía de Guanabara, da Ponte Rio-Niterói, Corcovado, Pão de
Açúcar, Centro do Rio e parte da cidade de Niterói do outro lado é muito
inspirador. As cores do fim da tarde iluminam os frequentadores dos quiosques,
aqueles que se reúnem na praia para praticar esportes (vimos alguns grupos
fazendo treino funcional) ou apenas a passeio, e quem mais passar por lá. Quem
estiver por lá em outras horas do dia deve se sentir igualmente iluminado.
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Praia vista a partir do Mormaço Lanches. |
Nessa visita, fomos
apenas até a altura da bica, reformada em 2014. Após esse trecho, há outros
quiosques e a praia continua até a entrada da Área de Proteção Ambiental e
Recuperação Urbana (Aparu) do Jequiá, local de preservação ecológica, com
manguezais, que será pauta para o Real no Rio no futuro.
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Esperamos ver essas aves sem esse monte de lixo na próxima visita. |
Recomendamos a todos
a visita à Praia da Bica. História, urbanismo, natureza e diversão no mesmo
local. É fácil de chegar, é real e é no Rio!
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Emília, como sempre, fazendo arte! |
Observação: a prefeitura deveria colocar seguranças no
Parque Marcello de Ipanema. Não vimos nenhuma movimentação suspeita no local,
mas, em muitos trechos a ausência de patrulhamento transmite uma sensação de
insegurança.
Agradecimentos:
Ao Marcos Davi,
parceiro de edição desse blog, da página lá no Facebook e de ciladas pela vida
desde o longínquo ano 2000.
Aos funcionários do
Mormaço Lanches, por todas as informações, pela disponibilidade em nos atender,
pelos lanches maravilhosos de sempre e pelos risos quando ouviram (talvez pela
milionésima vez) a pergunta: “de onde surgiu a ideia de colocar alface no
cachorro-quente?”.
Links:
Sobre o Projeto Sena
Limpa, que visava despoluir a Praia da Bica: http://www.rj.gov.br/web/informacaopublica/exibeconteudo?article-id=1042952
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